Um cão tipicamente francês "O cão não deve jamais ser o último objeto de tuas preocupações. De um pão pequeno com o leite mais grosso, alimentados e o ágil de Esparta é o cão vigoroso do Epiro. Com tais guardas você não temerá por suas pastagens, nem o ladrão noturno, nem o lobo esfomeado, nem os súbitos ataques da idomptable Ibéria." Ao dar estes conselhos aos primeiros "cinófilos", Virgílio é sem dúvida o primeiro autor (séc. I antes de Cristo) a falar do "Dogue do Epire" que pode ser considerado como um dos ancestrais do Dogue de Bordeaux. Mas este Dogue de Epire que será um cão guerreiro e um gladiador excepcional, de onde ele vinha? Como a maioria dos molossóides, pode-se pensar que o tronco original se encontraria no Tibete; os Dogues do Tibete tendo sido "importados" na Europa pelos comerciantes fenícios.
Como, do Tibete passando pelo Epire, o Dogue se tornou gaulês? Parece que ele seria um neto de Eneida (o herói troiano querido a Virgílio), de nome Brutus que, após ter matado seu pai, foi banido de sua pátria. Coagido a emigrar na Armorique ele levou consigo sua matilha de cães. Pode-se portanto considerar os ancestrais do Dogue de Bordeaux são os descendentes dos cães de Brutus e que eles se tornaram em seguida os companheiros de armas dos Celtas. Eles foram então conhecidos sob o nome de Alan ou de Allant, do nome da povoação oriental que encontramos em Aunis e na Guiana por volta de 406 depois de Cristo, os "Alain". Esta povoação será aniquilada pelos Visigodos pouco tempo após, na Espanha, e pode-se pensar que ela aí deixará seu cães como ela os havia deixado no Sudoeste da França.
No século XIV, Gastão III, duque de Foix, mais conhecido sob o nome de Gaston Phoebus (1331-1391), em seu célebre Tratado de caça, é pouco amável com o ancestral do Dogues de Bordeaux: "É o Alan que era branco e ouro, sem nenhuma mancha preta perto da orelha, os olhos bem pequenos e azuis, as narinas brancas, as orelhas eretas e agudas. Ele guarda também o habitante e é também bom para a caça dos ursos e dos javalis e mesmo para a caça com os cães corredores, mesmo que ele fique aturdido, sem bom faro com os outros cães, e sem nariz fino". Ele divide os Dogues em três categorias: os Dogues gentis, os Dogues de caça e os Dogues de açougue. Parece que o Dogue de caça é o que corresponde mais ao Dogue de Bordeaux: "les Dogues de caça são talhados como os galgos de estatura feia, mas eles têm cabeças grandes, grandes lábios e grandes orelhas... São pesados e feios, e se eles morrem pelo feito de um javali ou de um urso, não é uma perda muito grande."
A raça se desenvolve então ao longo dos séculos e só no século XIX voltamos a encontrar escritos sobre o Dogue de Bordeaux cujo gado de parceria se situa no Sudoeste da França e igualmente na Espanha (Touro de Burgos). É pelo menos a opinião do professor Kunstler, da faculdade de ciências de Bordeaux que, no final do século passado e no início deste, escreve sobre a raça: "Sós e ainda longe do tipo primitivo de nossos ancestrais, o Dogue de Bordeaux e o Touro de Burgos que parecem ser parentes próximos, tendo em vista a freqüência das viagens de contrabandistas que transpunham os Pirinéus com estes cães de defesa, conservaram a força do molosso dos Celtas". Será preciso esperar 1863 para ver aparecer os primeiros Dogues de Bordeaux quando da exposição que se desenrolou no jardim da Aclimação em Paris. O juiz era um certo Pierre Pichot que comenta assim a raça: "Nós temos pouca coisa a dizer dos cães dos quais um só da grande raça de Bordeaux merece uma menção particular." Vinte anos mais tarde, na exposição de Paris de 1883, foi notada uma fêmea soberba, Batalha, pertencente a um certo M. Fontan. Esta cadela de 67 cm no garrote seria uma das filhas da muito célebre Mira que ofuscou no Sudoeste nessa época em combates perante os ursos, os touros e outros cães. É igualmente em torno de 1883 que certos criadores introduziram sangue de Mastif no Dogue de Bordeaux. É preciso dizer que na época os juizes de Dogues, freqüentemente ingleses ou holandeses, conheciam muito mal a raça que eles descreviam deste modo: "Para nós, o Dogue de Bordeaux tem a aparência de um pequeno Mastif com uma cabeça de Bulldog."
de Bulldog." Pode-se pensar que a quota de sangue de Mastif modificou um pouco o aspecto externo do Dogue de Bordeaux. É desse modo que em 1889 se colocou o problema entre o máscara vermelha e o máscara preta. Problema resolvido em 1894 que deu uma preferência ao máscara preta. O início do século XX, se é um sinal de esperança para a cinofilia, é sinal de dúvida para a raça dos Dogues que resulta em três tipos: o "Bordelais", o "Parisiense" e o "Toulousiano". O Bordelais era maciço, colorido, com nariz curto, de stop importante, com uma cabeça enorme, com o corpo perto da terra enquanto o Toulousiano era ainda mais forte, com uma cabeça de tendência piriforme (forma de pera), com um focinho cerrado terminado em um bisel, possuindo um pouco de barbela, com uma ossatura franzina e com os músculos pouco desenvolvidos. Quanto ao Parisiense, ele se parecia com os Mastiff, era arrojada, esguio, de cor pálida, de focinho longo e fino às vezes aquilino e um pouco quebrado. Pode-se no entanto emitir algumas observações referente a essas descrições: é difícil imaginar que o Toulousiano fosse mais forte que o Bordelais já que ele possuía uma ossatura franzina e músculos pouco desenvolvidos. Será preciso esperar 1910, depois 1914, para ver o professor Kunstler elaborar um ante-projeto do que se tornaria mais tarde o padrão. Infelizmente a Primeira Guerra Mundial passará por lá, dizimando o gado. Só em 1924 um impressor de Bordeaux, de nome Barès, retomará o clube com o objetivo a saída do primeiro padrão só será emitido dois anos mais tarde e que durará até 1970. Uma vez emitido o padrão, os criadores poderão enfim fixar a raça utilizando de início o método da consangüinidade permitindo transmitir aos descendentes diretos as qualidades de seus genitores.